quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Malgré

Malgré. Uma palavra que se restringe a uma língua não pode ter o valor universal do silêncio. Malgré , desenha-se em minha mente em cor azeviche e com letras góticas, se pudesse pegá-la , porém , ela teria a textura desses ossos ocos e gosto de mau agouro. Seria uma pausa pontuda, toda roída . Ontem sonhei com uma pilha de ossos, e por isso escrevo, pela tolice de dar valor demais aos sonhos. Era uma escada de fêmures ao melhor estilo Dalí. Todos descontínuos e quebrados como as teclas já amarelas de um piano. Fui procurar em um livro de Freud, outra grande tolice : A ânsia por reificar - a intuição não cabe no método. Segundo ele sonhar com ossos significa desconstrução, traição. Provável e lógico. A ossatura é o que nos mantém em pé e é frágil, contudo. Submissa ao primeiro golpe. Já tentou quebrar uma clavícula? Simples. E logo ela que suporta todo o peso dos abraços. Mas não quero a lógica, quero antes, as bordas carcomidas de um abismo mental. Insisto na loucura como que faz candelabros de areia -insustentáveis- e acende suas sete velas, na praia, em meio à pior tormenta. Malgré significa “Apesar de” em francês. Tão pobre perante toda minha sinestesia. Tão pobre e contêm um mundo: lúcido, lógico, frágil. “Apesar”, palavra seca que expõe – nu para ridicularização pública - o nosso espírito em insistir e continuar triturando nossos ossos. Sempre e “Apesar de”.

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