domingo, 4 de abril de 2010

Destinos avessos

Havia no canto da boca um laivo de despedida com saliva e ausência. Gesticulando deixava transparecer na língua a queda úmida de palavras não ditas que aos poucos desbotavam, deixando um gosto ocre e um torpor amarelecido por entre os dentes.
Uma distância imensa: céu da boca.
Trouxe as mãos ao pescoço como se pudesse exteriorizar seu sufocamento. As pulsações- dedos e átrios – era lenta mas ar ainda entrava facilmente.
- “Chega a fingir que é dor , a dor que deveras sente”- pensava em devaneio ensimesmado. A boca,o pescoço,as mãos eram um microcosmo em busca de um destino.E as linhas das mãos ,que respiravam sobre a epiderme ,escorriam irregulares dentre as falanges e os mananciais da palma, perpassavam veias formando destinos estes inevitáveis, ramificados sob o leito de pequenos estuários,aquelas árvores azuis de Cortázar -sangue e só.

Meneava a cabeça em esquecimento, tinha seus pensamentos abrandados pela inconsciência. - Nem quiromancia intercede pelos destinos avessos

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